Câmara de Vereadores de Gramado
Câmara de Vereadores de Gramado
Estado do Rio Grande do Sul

Projeto de Lei do Legislativo N.º 001/2024

Proponente: Ver. Neri da Farmácia

Art. 1° A via localizada na Linha Tapera Alemã, sem nomenclatura, neste município, passa a denominar-se Rua Semilda Fisch Riegel.

Art. 2° o Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.



Câmara de Vereadores de Gramado, 10 de janeiro de 2024



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Neri da Farmácia

Vereador – Progressista

 

JUSTIFICATIVA DO PROJETO DE LEI

 

Senhor Presidente,

Senhores Vereadores (as),

O Vereador que a presente subscreve, observadas as normas regimentais, apresenta Projeto de Lei instituindo nomenclatura de rua na Tapera Alemã

Abaixo segue um breve relato histórico sobre a homenageada:

 

Semilda Fisch Riegel nasceu em Novo Hamburgo no ano de 1900, sendo a primogênita de João Fisch Sobrinho e Selma Gerhard Fisch.

João Fisch Sobrinho era filho de imigrantes alemães, tendo nascido em Passo Fundo, lugar que trabalhou na roça até o tempo de se incorporar à Revolução Federalista de 1893, onde alcançou a patente de capitão. Terminada a refrega, seu pai enviou-o à Novo Hamburgo, para se dedicar à “arte de trabalhar com couro” e se afastar de desafetos criados durante suas ações revolucionárias. E foi neste lugar que se casou com Selma e onde nasceram seus filhos Semilda, Oscar e Adriano.

Conta a lenda que João não tinha temperamento para viver a quietude de alguma arte plástica. Mudou-se com a família para Mundo Novo – atual Três Coroas – onde abriu um armazém de secos e molhados que, em alguns fins de semana, virava salão de baile. Era o começo do século XX, tempo em que muitas questões eram resolvidas por meios muito pouco diplomáticos. Neste contexto João Fisch se sentia à vontade, ao compasso de emoções e experiências resultantes de seu tempo de combatente revolucionário.

Pois, foi nas lides de bolicheiro e xerife do sei próprio negócio que ele foi descoberto pelo major José Nicoletti Filho, que estava fundando o lugar que hoje se chama Gramado. Os dois se tornaram unha e carne, conforme descrevem abundantes registros históricos de nosso município.

Chegados a Gramado sob os auspícios do major, a família Fisch ocupou logo um degrau de destaque social na comunidade que estava sendo organizada. Com a venda de sua propriedade em Mundo Novo, João comprou outras aqui, tornando-se um ativo empresário, envolvido principalmente com a então muito importante indústria madeireira.

Talvez querendo suavizar a pouco delicada imagem que havia trazido à Gramado, João matriculou sua filha – que acabou sendo a única entre mais cinco irmãos – em uma escola feminina na localidade de Dois Irmãos. Seu vaidoso objetivo é que ela um dia se tornasse professora.

Semilda estava encantada com a mudança para outro lugar onde sua sensibilidade e suas ambições de adolescente desabrocharam de modo para sempre inesquecível. Tempo, aliás, santificado por uma lembrança que durou por toda sua vida e definiu o conceito familiar que orientou, para sempre, o destino e a conduta de seus filhos. Só que a compra do Hotel Fisch – na esquina da Avenida das Hortênsias com a Borges – resultou em abandono de seus cândidos projetos pessoais. É que seu pai precisava alguém de confiança e algum estudo para ajudá-lo na condução do hotel – que durante o veraneio abrigava até 250 hóspedes, fornecendo a eles toda a alimentação. Sob o peso desta responsabilidade foi faxineira, auxiliar de cozinheiro, organizadora de jantarers, saraus e que mais ditavam as situações de emergência.

Enterrada nestas atividades ainda achou tempo para namorar e se casar com Bruno Ernesto Riegel, um tuberculoso que chegou a Gramado para arriscar uma cura espontânea: eis que os medicamentos apropriados para enfrentar tal doença ainda não existiam. Enquanto fazia o tratamento alimentar e exercícios físicos recomendados, ele foi contabilista de uma serraria em Canela que se conectava com as atividades de João Fisch em Gramado. Assim conheceu Semilda e com ela se casaram em 1921.

Bruno chegou de Porto Alegre como um intelectual especialmente diferenciado. Apesar das grandes diferenças entre genro e sogro, mantiveram profícua relação pessoal durante os anos seguintes, com Semilda, valorizada como mãe e funcionária do hotel. Ela participava ativamente da comunidade evangélica e da vida social da cidade, e junto com Osvaldina Lied, Irma Peccin e outras senhoras da época ajudou a traçar as normas de convívio em que se organizava a nova comunidade. Bruno também, acolhendo e participando, por exemplo, nas dependências da Sociedade Recreio Gramadense da qual ele era presidente, do grupo de gramadenses que, em 1937, decidiram pela construção de um hospital em Gramado.

Com a derrocada da hotelaria e do turismo gramadenses na sombria década de 1940, a família Riegel mudou-se para Novo Hamburgo, onde nasceram seus três primeiros filhos. Mas, por algum tempo viveram outra vez em Gramado, com Bruno atuando como contabilista e dono de armazém de secos e molhados.

Viraram, a seguir, plantadores de parreira na Linha Tapera Alemã, onde cresceram seus outros dois filhos João Antônio e Romeo. As uvas então colhidas eram vendidas à Vinícola Petronius – local onde agora estamos – e os recursos obtidos serviam para pagar o colégio de seus três filhos que estavam internados em colégios fora de Gramado. E Semilda virou colona em todos os detalhes, menos um; a professora ainda morava em seu espírito.

Serenamente adaptada as circunstâncias que a vida lhe tinha reservado, ela então abandonou sua máquina de fazer bainha aberta e as luzes da Recreio, engrossando para sempre as delicadas mãos da bordadeira e da professora que nunca foi…

Morando finalmente na cidade outra vez, voltou às atividades comunitárias locais, trazendo Porto Alegre, em cada viagem, sementes para que sua confraria de senhoras plantasse em nossos canteiros públicos a cultura que fez Gramado se tornar a cidade mais florida do Rio Grande do Sul. Com entusiasmo ingênuo e útil, enriqueceu sua vida jogando bolão na Recreio, organizando junto festas na Comunidade Evangélica, atendendo caboclos que ainda viviam na periferia da cidade e acompanhando as cerimônias de graduação de seus cinco filhos, três dos quais, casualmente, se tornaram professores profissionais.

E a estrada da Linha Tapera, onde Semilda Fisch Riegel chorou e cantou por vários anos, não há de se envergonhar do nome e da memória que carregará de hoje para sempre.

 

 

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