Câmara de Vereadores de Gramado

Moção N.º 007/2025

Proponente: Mesa Diretora

"Moção de Reconhecimento ao fundador da Vinícola Petronius, Emílio Kunz e família."

Senhor presidente,

Senhores vereadores 

MOÇÃO DE RECONHECIMENTO

   

Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Vereadores de Gramado, a Mesa Diretora vem respeitosamente, com amparo no art. 92 do Regimento Interno, submeter ao Plenário a seguinte Moção de Reconhecimento, a ser enviada à Família de Senhor Emílio Kunz (in memoriam), pelo legado e contribuição histórica no contexto das comemorações dos 150 anos da imigração italiana no Brasil e dos 200 anos da imigração alemã no Rio Grande do Sul.

A Câmara Municipal de Gramado manifesta, por meio desta Moção, seu reconhecimento e homenagem ao Senhor Emilio Kunz e à sua estimada família, descendentes diretos de imigrantes europeus, que ao longo de gerações preservaram e promoveram as culturas italiana e alemã no município de Gramado, contribuindo de forma inestimável para o desenvolvimento econômico, social e cultural da cidade.

Em razão dos 150 anos da imigração italiana no Brasil e dos 200 anos da imigração alemã no Rio Grande do Sul, datas de elevado significado histórico e simbólico, é justo e oportuno enaltecer a trajetória de famílias como a do Senhor Emilio Kunz, que representam com dignidade os valores, o trabalho e a perseverança dos povos que ajudaram a construir Gramado.

Esta Moção visa não apenas prestar homenagem, mas também incentivar a valorização da memória histórica e o fortalecimento dos vínculos culturais que unem Gramado à herança europeia de seus habitantes, reforçando o respeito à diversidade étnica e ao legado dos imigrantes que conformaram a identidade local.

   

JUSTIFICATIVA

A presente Moção de Reconhecimento tem como fundamento a importância de valorizar e preservar a memória histórica das comunidades que constituem o tecido social e cultural do município de Gramado. Os 150 anos da imigração italiana no Brasil e os 200 anos da imigração alemã no Rio Grande do Sul representam marcos fundamentais na formação de nossa sociedade, sendo imperiosa a expressão de gratidão e respeito às famílias que perpetuam esse legado.

O Senhor Emilio Kunz e seus familiares são representantes autênticos dessa herança, sendo protagonistas no fortalecimento das tradições, da culinária, do idioma e dos costumes que enriquecem o patrimônio imaterial de nosso povo. Além disso, sua atuação comunitária e contribuição para o desenvolvimento regional são dignas de reconhecimento público e institucional.

Valorizar a história de vida dessas famílias é também promover a identidade cultural do município, fomentar o turismo histórico-cultural e fortalecer os vínculos de pertença de nossas novas gerações. Trata-se, pois, de um ato de justiça e de gratidão coletiva. Reforça a valorização da história e cultura local. Homenageia o papel fundamental das famílias de origem italiana e alemã. Contribui para o fortalecimento da identidade gramadense.

Assim, solicitamos a aprovação unânime desta Moção, como forma de homenagear com merecido destaque o Senhor Emilio Kunz e sua família, em nome de todas as famílias que ajudaram a construir a história do nosso município.

Histórico

Emílio Kunz, filho de descendentes de alemães que desembarcaram no Brasil em 1846. Emílio nasceu em São Leopoldo (hoje município de Novo Hamburgo) em 1900. Era filho de Nicolau Júlio Kunz e Pauline Blos, que tiveram nove filhos. Cada um deles herdou, além do gosto pela arte e pela música, os negócios do pai. Nicolau Júlio era um artesão com diversos empreendimentos na cidade, inclusive na fabricação de destilados. Foi justamente nesse ramo que Emílio dedicou toda a sua vida. Mas, para isso, precisou deixar a região metropolitana e subir a Serra Gaúcha. E foi o acaso que tornou isso possível.

Na adolescência, Emílio havia contraído tuberculose, o que o deixou apenas com um pulmão. Sofria ainda de asma e sopro no coração. Aos 20 anos, era noivo de uma jovem, filha de um médico, que proibiu o casamento afirmando que temia que a filha ficasse viúva muito cedo. O médico não permitiu o casório, mas deu um conselho a Emílio: para que ele mudasse para um lugar com ar puro, como a Serra Gaúcha. O jovem fez a malas e passou a residir em Gramado. Ali, conheceu a primeira esposa Angelina Benetti, com quem teve os filhos Eloy, Ila, Dora e Lia. Foi em Gramado que passou a se dedicar a produção de vinhos e destilados. Autodidata e poliglota aprendeu os segredos da fabricação de bebidas em grande manuais de vitivinicultura escritos em alemão. 

Em 1939, Emílio fundou a Vinícola Petronius, na área Central de Gramado. Mas, a fabricação de vinhos, espumantes, conhaques, whisky, vermutes e outras bebidas já havia iniciado anos antes. Grande parte da produção era comercializada em São Paulo e Rio de Janeiro. A vinícola estava localizada num conjunto de prédios, que também funcionava como residência da família. O porão abrigava seis grandes tanques de concreto que armazenavam cerca de 100 mil litros de vinho, além das pipas de madeira. Emílio tinha um cuidado com o meio ambiente e construiu também uma estação para tratamento dos efluentes e das sobras da fermentação. Além disso, prezava pela qualidade do produto o que fez com que a vinícola se tornasse uma grande potência no final da década de 1940.

Era conhecido como um ‘bon vivant’. Tocava rabecão, dançava tango e gostava de receber visitantes e personalidades, como Érico Veríssimo e os governadores do Estado. Sua influência também fez com que ajudasse amigos durante a Segunda Guerra Mundial, quando foi intensificada a repressão às nacionalidades envolvidas no conflito, em especial italianos e alemães. Como havia apreensão de livros escritos em língua estrangeira, Emílio escondeu em sua própria casa obras de amigos, como as de um médico alemão. Anos mais tarde, em troca da cumplicidade, o médico o presenteou com um manual de medicina escrito em alemão. Livro que a família Kunz guarda até os dias atuais.

No início da década de 1950, as dificuldades do pós-guerra, fizeram com que Emílio vende-se a Petronius, a vinícola funcionou até 1982, quando foi totalmente desativada. Sua estrutura hoje abriga a Câmara de Vereadores, Biblioteca Pública Cyro Martins e a Secretaria da Educação, e mudasse de cidade. Começava uma nova fase.

Ele muda-se para Caxias do Sul, onde passa a dar consultoria enológica para os produtores de uva e vinícolas da região. Em sua caminhonete Williams, monta um verdadeiro laboratório ambulante, com calda bordalesa e outros preparos, para serem utilizados nas propriedades. No laboratório móvel Emílio também realizava análises dos vinhos.

Mais tarde, muda-se para Flores da Cunha e passa a trabalhar como enólogo na Cooperativa Santo Antônio e na vinícola João Slaviero & Cia Ltda, em Otávio Rocha. Mesmo atuando nas empresas, continua o seu trabalho de técnico ambulante. No início da década de 1960, o filho Eloy Kunz, já residindo em Flores da Cunha, monta uma indústria de bebidas, a E. Kunz & Cia, fundada em 8 de agosto de 1959. Emílio passa então a utilizar o laboratório da empresa para fazer a análise das bebidas. 

Mesmo depois de aposentado, o enólogo continuou a fabricar bebidas em sua casa no Centro de Flores, onde morava com a segunda esposa Alfredina e a filha Yasmin. Ali, elaborava whisky e outros destilados e, muitas vezes, ensinava a receita aos moradores que iam até a sua casa. Emílio faleceu em 1986, aos 86 anos, vítima de uma pneumonia. 

Seu legado foi continuado pelo filho Eloy e pelo neto e bisnetos. Em 2013, eles retomaram essa história com a fundação da Petronius Cervejaria & Destilaria (uma homenagem à antiga vinícola de Emílio), agora sob a direção da nova geração, o neto Emílio e os bisnetos Júlio César e Augusto. Tudo, com o intuito de escrever um novo capítulo na produção de bebidas da família Kunz.

Luis Henrique de Castro Koetz

Presidente

 

 

Rafael Ronsoni

Pedro Lazaretti

Roberto Cavallin

Vice Presidente

Secretário

Secretário

 

Sala das Sessões, 15 de Abril de 2025.

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ROBERTO CRISTIANO CICAROLLI CAVALLIN:80948030020 às 15/04/2025 15:22:02